a culpa é sempre do mordomo

domingo, setembro 10, 2006

I can remember when I couldn't respond and it was so scary.

NOTÍCIA no BBC NEWS

Vegetative patient 'communicates'

MRI scans of patient's and healthy person's brains (Adrian Owen)
The healthy brain (l) showed the same activity as the patient's (r)
A patient in a vegetative state can communicate just through using her thoughts, according to research.

A UK/Belgium team studied a 23-year-old woman who had suffered a severe brain injury in a road accident, which left her apparently unable to communicate.

By scanning her brain, they discovered she could understand spoken commands and even imagine playing tennis.

They said their findings, published in Science, were "startling", but cautioned this could be a one-off case.

Five months after her accident, which happened in July 2005, the researchers used functional magnetic resonance imaging (FMRI) to record the woman's brain activity.

We have found a way to show that a patient is aware
Dr Adrian Owen, MRC

She was diagnosed as being in a vegetative state, which meant even when she was awake, she was unresponsive.

While her brain was being mapped, the researchers asked her to imagine simple tasks, such as walking around her home and playing tennis.

Lead scientist Dr Adrian Owen, a neuroscientist from the Medical Research Council's Cognition and Brain Sciences Unit in Cambridge, said: "The tasks we chose are based on many years of brain imaging research that shows different areas of the brain are activated when we perform different kinds of tasks."

'Indistinguishable'

When the scientists compared her brain activity to that of healthy patients, who had been asked to carry out the same task, they discovered the patterns were "indistinguishable".

Dr Owen said: "These are startling results.

Kate Bainbridge
I can remember when I couldn't respond and it was so scary

"It tells us the patient could understand speech, because of course, we asked her to do these things. It also tells us that she is able to perform simple tasks in her head, such as imagining certain scenarios.

"We see this as a proof of principle: we have found a way to show that a patient is aware when existing clinical methods have been unable to provide that information."

However, he emphasised that this was a single case and people should not assume all patients in a vegetative state were consciously aware.

He said: "All vegetative patients are different: they have damage to different parts of their brains and their chances of recovery are different."

Fuelling the debate

In an accompanying article in the same journal, Lionel Naccache, of the Cognitive Neuroimaging Unit in France, said: "Despite the woman's very poor behavioural status, the FMRI findings indicate this existence of a rich mental life."

He said there was a strong case for assessing other patients using this scanning technique, but he added that it was important not to generalise from one patient.

The finding that vegetative patients may experience awareness of their surroundings will fuel the ethical and legal arguments that surround some vegetative state cases.

Last year, a debate raged in America over whether 40-year-old persistent vegetative state patient Terri Schiavo should be allowed to live or die.

Eventually, following a court decision, her feeding tube was removed on 18 March and she died 13 days later.

Kate Bainbridge, who was initially diagnosed as being in a vegetative state, but who has since recovered and can communicate through a keyboard, said the scanning work was very important. She took part in some scanning experiments from the same team.

She said: "I can remember when I couldn't respond and it was so scary."

She added that doctors should never assume that a patient is not aware.

ARTIGO no PÚBLICO

O que se passa no cérebro das pessoas num estado vegetativo persistente? Será que conseguem sentir a presença dos familiares e amigos, será que percebem o que se passa à sua volta, embora pareçam ausentes? Esta dúvida faz sofrer muitas pessoas, e está na base de obras de ficção comoventes, como o filme “Fala com Ela”, de Pedro Almodóvar. Cientistas britânicos e belgas tentaram perceber o que se passava no cérebro de uma mulher de 23 anos que estava num estado vegetativo há cinco meses, e tiveram uma grande surpresa: quando lhe pediram para imaginar que jogava ténis, activaram-se as mesmas áreas do cérebro usadas por voluntários saudáveis para imaginar o mesmo.

“O estado vegetativo é uma das condições menos compreendidas e eticamente mais complicadas da medicina moderna”, escreve a equipa de Adrian Owen, da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, num artigo publicado amanhã na revista “Science”.

“Este termo descreve uma desordem que afecta os pacientes que saem de coma: parecem acordados, mas sem captarem o que os rodeia.” No entanto, estudos que usaram técnicas que permitem observar o cérebro em funcionamento mostraram que podem existir “ilhas de função cerebral preservadas numa pequena percentagem de doentes”, escrevem os autores, para explicar por que tentaram esta experiência.

“Apesar de o diagnóstico depender de não existirem provas de comportamentos propositados para responder a estímulos externos”, a equipa tentou medir as eventuais respostas da doente — que preenchia todos os critérios para se considerar que estava num estado vegetativo, apesar de ter preservados os ciclos de sono e vigília —, interpelando-a directamente. Para isso, os cientistas usaram um exame denominado ressonância magnética funcional, através do qual se pode ver quais as áreas do cérebro activadas para responder a uma determinada situação, medindo alterações nos níveis de circulação sanguínea.

“Este café tinha leite e açúcar”

Primeiro, mediram-se as respostas neuronais da paciente a frases simples, como “este café tinha leite e açúcar.” Depois, viram como reagia a barulhos sem sentido e frases em que se usavam palavras homófonas, em que era preciso distinguir o significado das palavras para compreender o que tinha sido dito. Os padrões de actividade cerebral da paciente foram comparados com o que se passava no cérebro de pessoas saudáveis expostas aos mesmos estímulos e surgiu a primeira surpresa: “Foi observada actividade relacionada com o processamento da fala (...) equivalente à dos voluntários saudáveis.”

Mas, apesar de impressionantes, estes resultados não permitiam tirar conclusões inequívocas: “Muitos estudos de aprendizagem implícita, bem como durante a anestesia e o sono, demonstraram que algumas funções cognitivas, como a percepção da fala e o processamento semântico, podem continuar na ausência de consciência.” Por isso, os cientistas fizeram uma segunda experiência.

Desta feita, pediram à paciente que imaginasse que estava a jogar ténis, e a passar por todas as divisões da sua casa, começando pela porta da frente. Mais uma vez, os seus padrões de actividade cerebral assemelharam-se aos dos voluntários saudáveis, e mantiveram-se durante cerca de 30 segundos.

“Estes resultados confirmam que, apesar de preencher os critérios clínicos para o diagnóstico de estado vegetativo, esta paciente retém a capacidade de compreender comandos falados e responder-lhes, através da actividade cerebral, se bem que não através da fala ou de movimentos”, escrevem os cientistas. Além disso, o facto de ela ter decidido colaborar com os cientistas mostra “um acto claramente intencional, o que confirma para além de qualquer dúvida que ela estava consciente de si própria e do que a rodeava.”

Convém, no entanto, não tirar grandes conclusões deste estudo. Generalizar a partir de um só caso é demasiado, sublinha o especialista em imagens neurológicas Lionel Nacchache, num comentário publicado na “Science”. Mas, pelo menos, sugere um método para tentar descobrir quais os pacientes que, apesar de parecerem não comunicativos, podem ter capacidades cognitivas residuais — e dar-lhes meios para “comunicarem os seus pensamentos, modulando a sua actividade neuronal”, escreve a equipa de Owen.

Ela está consciente?

Há uma pergunta que fica a ressoar: esta mulher está consciente? Lionel Nacchache, do Instituto Nacional da Saúde e da Investigação em Medicina (INSERM) francês procura responder, num comentário na “Science”. Mas a resposta não é simples. “Será possível determinar se uma pessoa está consciente baseando-se na análise dos padrões de actividade cerebral, em resposta a perguntas?”
A capacidade de relatar os seus próprios estados mentais é a prova determinante da consciência. Mas, quando isso não é possível, há alternativas, analisando outros atributos da consciência, diz Nacchache: manutenção activa das representações mentais, processamento estratégico e comportamento intencional.
O facto de a paciente ter colaborado na experiência e manter os padrões de activação neuronal por 30 segundos (quando lhe pediram para imaginar-se a jogar ténis) são factores que jogam a favor de a dar como consciente – embora não permitam desfazer as dúvidas. C.B.

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