O Inverno do nosso descontentamento volveu-se em espledoroso Estio com este sol de Iorque; e todas as nuvens que obscureciam a nossa casa, foram amontoar-se no profundo seio do oceano. Coroas vitoriosas cingem-nos a fronte; as nossas armas morsegadas pendem nos monumentos; os alarmes tristes foram substituídos por alegres reuniões, e as nossas marchas guerreiras ei-las transformadas em danças buliçosas. A carrancuda guerra desenrugou a face e, em vez de montar cavalos bardados que infundem pavor no ânimo do inimigo, caracoleia ágil no aposento das mulheres, entregando-se ao prazer das lutas amorosas. Mas eu, que não nasci para estas cavalarias nem para cortejar um espelho amável; eu, que sou de têmpera rude, e privado da graça dos amantes para me pavonear diante duma ninfa de porte lascivo; eu, que sou meiminho, e que fui pela falaz natureza privado de toda a formusura , disformado, inacabado, vindo ao mundo antes de termo, e apenas semi feito; ou tão monstruoso e tão pouco à moda que até os cães ladram quando me vêm passar, não tenho mais prazer, neste tempo de paz podre, que não seja o de contemplar a minha sombra ao sol e comentar as próprias imperfeições. Portanto, já que não posso tornar-me o amante destas bem falantes damas, estou decidido a comportar-me como um vilão e a odiar os frívolos prazeres destes tempos. Por meio de tramas, insinuações peçonhentas, profecias de bêbados, acusações e mentiras, resolvi suscitar um ódio mortal entre o meu irmão Clarence e o Rei. Se o rei Eduardo é tão leal e justo como eu velhaco, falso, pérfido, Clarence será hoje rigorosamente encarcerado, se não mente a profecia que diz que G será o assassino dos herdeiros de Eduardo. Pensamentos, ocultai-vos no fundo da minha alma, Aí vem Clarence.
Fala Glocester, futuro Rei Ricardo III
a culpa é sempre do mordomo
segunda-feira, novembro 13, 2006
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