a culpa é sempre do mordomo
sexta-feira, fevereiro 09, 2007
Sim, Não, Talvez, Nunca!
"Sim, Não, fracção da sociedade em duas partes. Sem interessar qual é menor ou qual ganha no cálculos dos votos, é espantoso como há quem pense que penalizando se termina ou ajuda a terminar com o aborto.
Não, é equivalente a varrer para baixo do tapete os abortos clandestinos e o sofrimento das mulheres e homens. Dos homens sim, porque alguns homens também abortam, sofrem e desejam nunca o ter feito.
Não há Estado que possa impor um filho indesejado. Não há Estado que possa impedir gravidezes indesejadas nas suas múltiplas possibilidades de ocorrência.
Sim, o feto de dez semanas é parecido com um ser humano formado. Sim, é horrível imaginar um ferro a cortar aquela vida, implacável e finalmente. Sim é inimaginável a profissão de alguém que o faça por rotina, que talhe, corte, e aspire, limpe e dejecte.
Sim é duro. Sim, é indesejável impedir o desenvolvimento de uma nova vida. Sim, apenas imaginar é sofrimento.
Não, fazer um aborto, não é duro, é: cortante na alma, no peito, na essência mais funda do ser. Sim, na mesma alma que acolhe os filhos nascidos e vê a sua própria morte por eles sem hesitação.
Não, apenas Um. Ninguém tem nada a ver com a minha dor. É só minha. Ninguém tem o direito de decidir sobre ela. Finjam decidir sobre a minha dor, apenas terei de a esconder mais.
Sim, e se for privilegiado, poderei sempre ir ali ao lado, ou ao apartamento da parteira, esconder em silêncio o meu sofrimento e cortar conscientemente aquela vida. Mas chorarei só e em paz.
Já agora, a vossa decisão, em nada alterará a minha. Até porque eu não conto com a vossa ajuda para nada. Nem sei quem são vocês, ou o que pensam.
Sim, porque o vosso voto criará alguma mudança? Quando a próxima mulher decidir abortar, a decisão de dia 11, irá ter algum peso? Sim, porque nenhuma mulher deixa de abortar por ter medo de ir para a prisão, mas por medo da enxovalha pública, silencia o aborto feito.
Sim, silêncio. Ausência de estatísticas. Morte solitária e discreta. Hipocrisia. Tapete.
No silêncio e em voz baixa, o padre no confessionário, absolve e receita 35 Ave Maria, 10 Pai Nosso, dizendo cheio de amor: Filha querida, tenta não repetir… sofres tanto."
Autora desconhecida, prisão de Tires (Guarda prisional).
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